A experiência de ter viroses no Caribe

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Praia de Taganga. Último passeio com o Campinas.
Praia de Taganga. Último passeio com o Gabriel.

11 de agosto de 2014

Estava sentada na calçada da Calle Soledad, em Cartagena da Indias, o Pedro meu amigo artesão tinha acabado de me dar o segundo antitérmico do dia para abaixar a febre. Senti uma imensa felicidade de estar ali para o encontro marcado com o Gabriel quatro meses antes. Depois do abraço apertado o diálogo foi mais ou menos assim.

Gabriel: Carol, você quer ir pro hospital, quer ficar aqui ou quer que eu decida?
Eu: Decidi pra mim.
Gabriel: Vamos pro hospital.

Essa foi a primeira vez na vida que passei o bastão. Alguém decidiu por mim. Fiquei feliz naquela de ir pro hospital. De ter o Gabriel ao meu lado, cuidando de mim. Já tinha duas semanas que estava passando mal com diarreia, febre, ânsia de vômito e desidratação. Era a segunda vez que ia para no hospital.

Gabriel em Taganga
Gabriel em Taganga

Foram dias felizes. Dias em que me enganei várias vezes achando que estava bem e após um dia bem, voltava a passar mal. Assim passeamos em Cartagena, fomos para Santa Marta no Parque Tayrona e em Taganga. Fiz até trilhas nesses dias, com algum esforço. No final obviamente piorei!

Me despedindo do Gabriel cinco dias depois, ele me disse que deveria estar 3 dias sem nenhum sintoma para poder voltar a viajar. Um pequeno rala depois de vários dias que eu dizia que tinha melhorado e piorava no dia seguinte após minhas extravagâncias. Segui o conselho. Acabei não conseguindo voltar a viajar.

09 de setembro de 2014

Já faz duas semanas que voltei pro Brasil e estou na casa dos meus pais. Na Colômbia e na Venezuela fui cuidada, mimada e acolhida por muita gente. Reencontrei a Carito que tinha ficado hospedada em uma república que morei em SP em 2010. Fiquei na casa dela por uns 10 dias, fui tratada como se fosse da família.

Nessa semana não melhorei e acabei decidindo não seguir adiante. Entendi que estava mal, meu termômetro foi perceber nada me inspirava a sair da cama, ou no máximo de casa, nem mesmo podia imaginar ir a Cidade Perdida, lugar que normalmente iria.  Me sentia fraca e só saia para andar um pouco quando tinha companhia. Ao todo, deu um mês doente entre Venezuela e Colômbia. 6 kg a menos. E muitos amigos a mais.

Era o momento de decidir sozinha. Falei com amigos pela internet. Mesmo assim, tinha que decidir. E dessa vez, era sozinha de novo. As opções que me vinham a mente eram:

  • Apoio do Consulado Brasileiro.
  • Apoio da família e voltar pra a casa.
  • Consulta com um médico colombiano amigo do Eder e tentar outro tratamento.
  • Voltar para Venezuela e ter tratamento gratuito.
  • Ir pra Letícia (divisa Colômbia-Brasil) ter tratamento gratuito pelo SUS.

O Consulado Brasileiro me enrolou e seu apoio se restringiu um telefonema e a ofererta para entrar em contato com a família e dizer que não poderia ajudar mais. Minha mãe de primeira disse que me dava as passagens e comprou no dia seguinte. ❤ (Não precisei ser deportada, nem pedir para amigos! rs ) A passagem era pra daí uma semana e depois de tentar de todas as formas pelo Consulado, companhia aérea (Lan Aerolíneas) e aeroporto, descobri que se estivesse a ponto de morrer, nem assim a companhia poderia antecipar a passagem em algum vôo vazio. Eles só podem vender as antecipações pelo o dobro do preço da passagem. Nesse processo, conheci pessoas maravilhosas, que queriam ajudar, presas a um sistema que faz o melhor por você, quando você pode pagar o preço que eles querem.

Foi cruel saber que havia passagens como a minha disponível, no mesmo tipo de vôo, mas por comprar uma passagem de emergência, descobri ser inviável antecipar. O preço que eles dizem real da passagem é abusivo – de 1089 reais (ida e volta), eu teria que pagar a diferença de 950 dólares.

Descobri que até em países como a Colômbia que toda a saúde é privatizada, o aeroporto tem médico gratuito disponível. O motivo é te barrar se for contagioso, mas eles também atendem doentes. Fui bem atendida aí! #descobertas

Ter a passagem de volta não significa nada. Não é só a Cidade Perdida e a trilha de 5 dias que eu não penso em encarar. Preciso do meu corpo de volta, inclusive meus 6 quilos que descobri que não eram a mais. Quero a capacidade de decidir. Por enquanto, fico grata aos inúmeros amigos que fiz nessa jornada.

Carito, eu, Adriano e Jonatha
Carito, eu, Adriano e Jonatha
Eder e eu. Despedida no aeroporto.
Eder e eu. Despedida no aeroporto.

Agora estou em Ituiutaba, comida mineira, cama macia e todo o conforto do aconchego da casa de mãe. É bom ter para onde voltar. Depois de duas semanas aqui e ainda estar sentindo mal, descobri que fiz uma boa escolha. Mesmo sem estar em condições de decidir.

Nessa história, as minhas grandes descobertas foi encontrar o sentimento de divida em vez de gratidão (racionalmente me sinto grata a todos). É muito louco sentir uma gratidão imensa ao universo quando subo o Monte Roraima, termino uma trilha ou chego em uma praia linda. Quando fico doente, por mais que queira sentir gratidão por tudo dar certo, por confiar nas pessoas, no universo… o sentimento que vem é esse, um débito. Por ironia, ainda não aprendi a aceitar ajuda,simplesmente.

Espero estar bem no próximo post e já fazendo planos de viagens…

4 comentários em “A experiência de ter viroses no Caribe

    carolbernardes respondido:
    10 de setembro de 2014 às 17:05

    Gabi, vamos nos ver sim. Tem pão de queijo aqui em casa te esperando para aquele café da tarde com muita conversa fiada! E Uberlândia fica no caminho, né?! Beijos

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    carolbernardes respondido:
    10 de setembro de 2014 às 17:03

    Clá, sua linda! Nos veremos em breve. E eu quero comer essas Carolinas! 🙂

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    Gabriela disse:
    10 de setembro de 2014 às 5:56

    MInha amiga! Que belo texto… Quero tanto te ver. Agora que estamos tão perto, estamos longe!! Espero que fiques bem!! Por aqui uma correria que terminará logo logo… logo logo nos vemos!! Um grande Beijo Gabi

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    Clarissa disse:
    10 de setembro de 2014 às 2:59

    Vou te dizer que nesse último mês que tu esteve com problemas de saúde eu comi (e muito) Carolinas.
    Um docinho delicioso da padaria da esquina do Elos. E te juro que toda vez que comia eu pensava: um nome tão lindo, pra um doce tão delicioso e pensava em ti e nas tuas andanças pelo mundo.
    Tenho certeza que logo, logo (e muito logo, mesmo) tu vai estar com toda tua energia e alegria de volta pra encantar muitas mais pessoas pelo teu caminho.
    Mas antes de tu voltar pro mundo quero te ver e te levar uma Carolina…

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